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Os contextos sociais no qual estamos inseridos interferem diretamente nas condições e possibilidades do nosso desenvolvimento, seja este individual ou coletivo. Nesse sentido, o Programa Caminho Melhor Jovem – Social Rio, que ocorreu durante quatro anos (2013-2017), em favelas do Rio de Janeiro foi uma importante ferramenta para implementação de políticas sociais para jovens em territórios vulneráveis.
O Programa de Inclusão Social e Oportunidades para Jovens no Rio de Janeiro – CMJ alcançou 15 territórios e 9.444 jovens, com 480 profissionais qualificados. Desenvolvido pelo Governo do Estado do Rio de Janeiro, com financiamento do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID). O programa buscou promover avanços territoriais, a partir de metodologia participativa, contribuindo com o combate às desigualdades sociais, possibilitando acesso a oportunidades para jovens de 15 a 29 anos, moradores(as) de territórios com Unidades de Polícia Pacificadora (UPP).
Propor e articular políticas públicas direcionadas à juventude, exige que revisemos arranjos sociais pré-concebidos, para refletir sobre as normas estruturais que dizem respeito à organização social a qual cada jovem pertence. O lugar comum que a juventude nas favelas se insere é, na maioria das vezes, rodeada de preconceitos e estigmas, que tendem limitar a construção de políticas públicas de juventude, que sejam de fato efetivas e transformadoras da realidade social.
A participação da Equipe Quanta na construção do projeto, se deu no gerenciamento, acompanhamento e planejamento do programa, buscando soluções adequadas e adaptadas à metodologia específica de cada território. Uma das nossas principais preocupações, foi a formação de equipe multidisciplinar de profissionais da psicologia, pedagogia e afins, devidamente capacitados e com vivência e compreensão do local, para conseguir dar conta da complexidade e das nuances do projeto. Apesar da experiência e vivência local, os profissionais passaram por um percurso de formação, para compreenderem a leitura dos principais problemas e potenciais do programa, bem como para definir estratégias e abordagens apropriadas para cada comunidade e para cada grupo de jovens, preservando as particularidades que lhe compõe. Pensar o projeto de baixo para cima, despendeu dos profissionais um trabalho de campo que possibilitou um entendimento profundo da realidade que atravessava estes jovens. Com interesse de ir além da captação de dados genéricos, mas corrigir como se faz essa captação, ajustando de acordo com as possibilidades, se fez necessário um comprometimento com a juventude beneficiária do projeto Caminho Melhor Jovem (CMJ).
Esse comprometimento diz respeito a uma ética do cuidado que buscamos sempre desenvolver em nossos projetos, valorizando o agenciamento dos usuários, bem como estreitando sua relação com as políticas públicas que foram concebidas. A desigualdade social, a dificuldade de acesso à educação e a outros direitos sociais básicos, dificultam o processo de reconquista da autonomia em cada jovem. Dessa forma, 4 (quatro) componentes serviram de base para estruturação e prática do programa, sendo estes:
Componente 1: Sistema de Atenção Integral a Jovens
Subcomponente 1.A: Governança Sistema de Atenção Integral.
– Implantação das Unidades de Gestão de Territórios – UGT
– Apoio aos jovens em tutoria (disponibilizando bolsa de estudos)
– Metodologias e instrumentos de suporte às equipes
– Comunicação Social
Subcomponente 1.B: Serviço de Aconselhamento e Tutoria aos Jovens Beneficiários.- Serviços de Aconselhamento
– Supervisão técnica da equipe de atendimento
Componente 2: Expansão e Melhoria da Oferta
Subcomponente 2.A: Políticas Integrativas para a Juventude.
– Projetos integrados com o sistema educativo
– Projetos integrados para a inserção laboral
– Projetos integrados com o sistema de saúde
– Projetos integrados de oportunidades Culturais
– Projetos integrados para inclusão no Esporte e Recreação
– Projetos integrados de Inclusão em Ciência e Tecnologia
– Projetos para reinserção de egressos do Sistema Carcerário.
Subcomponente 2.B: Expansão do Atendimento:
-Expansão e Melhorias de Espaços (construções e equipamentos)
Componente 3: Monitoramento e Avaliação
-Plano Operativo de Monitoramento
-Estudos e Publicações sobre a Juventude
-Avaliação de Impacto do Programa
Componente 4: Administração do Programa
– Unidade de Gestão do Programa
-Auditoria Externa.
Olhar de modo integrado para cada território, foi decisivo para pensar modelos que viabilizassem a autodeterminação de cada jovem e a retomada de sua autonomia, possibilitando caminhos que demonstrem a importância do protagonismo de cada um deles em sua comunidade. A integralização de cada território se perfaz na reapropriação do lugar urbano e do direito à cidade, numa perspectiva de pensar cada lugar a partir de seu próprio recorte, levando em consideração as especificidades que cada território possui. Por conseguinte, buscando fortalecer a reafirmação desta identidade, podemos pensar numa experiência desenvolvida na Favela do Jacaré, zona norte do município do Rio de Janeiro, onde foi construída uma restituição da memória, com intenção de salvaguardar a história o lugar, a partir da prática de valorização dos saberes.